Meus pés gelados procuram se aquecer em movimentos repetidos
e sem função frente ao frio que gela a alma. É a constatação do quanto sou
efêmera frente ao natural. Frente aquilo que nos opera, nos rege.
É mãe! Parturiente do que somos, é a natureza forte e firme,
que nos apresenta a imensidão e a insignificância. Atreve-se a limitar a alma, em condições que
se apresentam na frente do espelho como rugas, como sardas. O peso do tempo, o
limiar da vida. Furtivas fontes de esperança e desespero com o que está por
vir. Perdemos o sorriso infantil e ganhamos a carência de um olhar esvaziado de
fé.
Em nossa volta, rege a infâmia de não pertencermos, de não
sabermos. Somos destituídos do conforto uterino, e lançados a sorte. Resta-nos?
O aconchego do cobertor sobre nosso corpo meio vestido, meio despido,
inconstante... Entorpecido com o sono que me atropela e insinua o fim do tempo,
do hoje.